Comunicação

Comunicação

Clipping

É possível incluir? Quatro escolas mostram que sim! 19/10/2017

Sem dúvidas, a questão da inclusão escolar deve ser avaliada sob a ótica da política pública. É necessário um compromisso do Estado para que as unidades escolares disponham dos recursos necessários para ofertar uma educação em condição de igualdade para todos.

Ainda assim, algumas escolas já vêm desenvolvendo trabalhos significativos nesse sentido, promovendo a releitura de seus espaços e práticas para que as ações pedagógicas se deem com base na diversidade humana e, portanto, deem conta das especificidades de cada indivíduo.

No Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, o Carta Educação apresenta a experiência inclusiva de quatro escolas que participam do programa Diversa, do Instituto Rodrigo Mendes. A iniciativa, que começou em 2012, tem como objetivo apoiar as redes de ensino no atendimento de estudantes com deficiência no ensino regular. Confira!

1. Identidade vs Preconceito
Este é o nome do projeto desenvolvido pelo Colégio Estadual Igléa Grollmann, localizado em Cianorte, no Paraná, desde 2013. Sua formatação coincidiu com a chegada de dois estudantes com deficiência na instituição, Maria Clara, que tem Síndrome de Down, no nono ano, e Luan, que apresenta transtorno do espectro autista (TEA), no sexto.

Para apoiar a integração dos alunos nas novas turmas e nos ambientes escolares, os professores e a equipe gestora apostaram na interdisciplinaridade como estratégia pedagógica, com total respaldo no projeto político pedagógico, que já tem como diretriz principal a apropriação de conteúdos para que os estudantes sejam capazes.

Por isso, todas as áreas de conhecimento se voltaram para a oferta de conceitos científicos sobre preconceito, discriminação, segregação e etnocentrismo, com o intuito de relacioná-los com as atitudes cotidianas.

Na turma de Maria Clara, as disciplinas se pautaram pelo material “Alterações cromossômicas do PAR 21 e o direito de ser e pertencer“, caderno pedagógico que traz sugestões de atividades e aspectos teóricos para embasar o trabalho com estudantes com Síndrome de Down.

Segundo relato da escola para a plataforma do programa Diversa, o material suscitou reflexões em todas as áreas. Em História, por exemplo, foram propostas discussões como: por que os mongóis medievais eram considerados bárbaros? O que significam os conceitos de barbárie, civilização e preconceito? O que você entende pelos termos mongol e mongoloide?

Em Geografia, explorou-se o espaço e o território da Mongólia. Em Ciências, foram aprofundados tópicos sobre DNA com discussões sobre a Trissomia 21. Nas aulas de Matemática, a educadora utilizou as estatísticas de pessoas com deficiência no Brasil para falar sobre tratamento da informação. Em Língua Portuguesa, os estudantes fizeram a leitura, interpretação e reescrita dos contos “A vida íntima de Laura” e “A vendedora de fósforos”, de Clarice Lispector. Por fim, para as atividades de Educação Física, os professores elaboraram jogos colaborativos e de socialização.

Para aprofundar as reflexões, ainda foram apresentados à turma os filmes, “O oitavo dia”, “Animais unidos jamais serão vencidos”, “Corrente do bem” e “Meu nome é Rádio”.

2. Minitênis
A escola Terezinha Souza, em Belém (PA), driblou os desafios pedagógicos e os altos custos da modalidade escolhida como estratégia para promover a inclusão: o tênis.

A unidade partiu para a reutilização de materiais como giz, pneus usados, garrafas pet, tubos de PVC e fita adesiva para estruturar o minitênis e ofertá-lo aos estudantes do ensino fundamental.

Para atender às necessidades de doze alunos com deficiência – entre transtorno do espectro autista, deficiência intelectual, auditiva e múltipla e síndrome de Down e de Turner -, os professores de Educação Física se uniram aos de Artes e aos profissionais do Atendimento Educacional Especializado. A ideia era trabalhar para valorizar as potencialidades de cada estudante.

As regras do jogo, que foi realizado em mini quadras demarcadas pelos próprios alunos, foram flexibilizadas a fim de acolher as diversas capacidades motoras.

3. Bocha inclusiva
A escola Municipal Dom Orione, em Belo Horizonte (MG), tinha como desafio incluir o estudante Pedro, 12 anos, que apresenta tetraplegia, nas aulas de Educação Física. Sem estratégias pedagógicas definidas, o aluno acabava ficando na companhia de um monitor ou na biblioteca enquanto os demais iam para a quadra poliesportiva.

A partir de uma formação inclusiva direcionada aos profissionais da unidade, se percebeu que participação do garoto poderia contribuir para sua formação geral e melhora em seus aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais.

A modalidade escolhida foi a bocha adaptada, estruturada a partir de adaptações no espaço, regras próprias e uso de bolas moldáveis, calhas e ponteiras.

O projeto partiu de três estratégias principais: criação de uma estratégia de comunicação para que todos pudessem se comunicar com Pedro; parceria com o programa Superar da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL) de Belo Horizonte, que é referência em modalidades esportivas adaptadas, para criar as ações que seriam replicadas; e a implementação da bocha inclusiva nas aulas de Educação Física.



Fonte: Carta Capital