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O futebol como esperança de futuro para internos do socioeducativo 05/12/2017

Toca o apito. Envoltos nos lances dos treinos, os meninos obedecem às instruções de Marigésio Carvalho [CREF 008537-G/CE], ex-jogador de futebol e educador físico [o termo correto é Profissional de Educação Física]. O time é formado por atletas internos do Centro Educacional Patativa do Assaré (Cepa), no bairro Ancuri, e por um treinador apaixonado, que enxerga na bola uma ferramenta de transformação. Ao escolher o local para conversar com a equipe do O POVO, ele disse: “Vamos ficar aqui, no campo, aqui é o meu lugar”. Dele e de dezenas de jovens que aprendem e se modificam a cada lance.

Ainda menino, Marigésio preparou com um punhado de meias a bola que receberia os primeiros chutes no quintal de casa. Então, vieram as lições de vida do pai, o maior incentivador. “Ele me ensinou a principal lição que eu poderia repassar para esses jovens, o respeito. É por isso que aquele menino que jogava com a bola de meia conseguiu ajudar tanta gente”, diz. Além disso, ele guarda gratidão pela esposa Maria Gerliane, “que sempre acreditou comigo”. Foi por causa de gente que acredita que ele se transformou e transformou a vida de outras pessoas.

O ex-jogador, que já atuou em clubes locais e de Portugal, desenvolve trabalhos de segunda a sábado em três unidades socioeducativas da Capital. Além do Cepa, trabalha no Centro Socioeducativo do Canindezinho e no Centro Educacional Dom Aluísio Lorscheider (Cecal), onde orienta em média 200 jovens de 12 a 21 anos.

Na visita do O POVO ao Cepa, a realidade vivida pelos meninos com uniformes, chuteiras e perspectivas — o mais importante — era oposta à situação de 2015, quando se iniciou a série de rebeliões no Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo. Além de mudanças estruturais, veio a vontade de fazer diferente.

“Eu posso ver essa medida com outros olhos, posso ver que não tô perdendo tempo e sim ganhando. Eu tô me preparando cada vez mais, evoluindo. Aqui posso me concentrar, ter um foco para mais na frente continuar”, sente um dos integrantes do time. Questionado sobre o trabalho do treinador, ele responde: “É um cara que conversa com a gente, ensina muita coisa. A mais importante é ter respeito e humildade onde for”, diz.

É que lá, para Marigésio, é todo mundo atleta. “Eu não os trato como jovens infratores. Quando entram no campo ou na quadra, eles são atletas. A gente faz um trabalho focado no respeito, na integração física e no bem maior, que é ver esses meninos voltarem para a sociedade e verem que o tempo que passaram aqui foi um tempo que tiveram a oportunidade de estudar, jogar bola, conviver em harmonia”, acredita.

Basta ver antes dos treinos os ouvidos atentos às orientações e a vontade de permanecer no projeto. Mas, para o ex-jogador, é o brilho nos olhos dos alunos e a sensação de liberdade que denunciam a importância do trabalho. “É com isso que me sinto realizado”, orgulha-se. E é com a realização dele que outros jovens — no campo, na sala de aula ou nas quadras — encontram novo jeito de seguir.


Fonte: O Povo