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Medidor de glicose, insulina, gel... a "doce" rotina dos diabéticos corredores 10/01/2018

A corrida é um dos esportes mais democráticos. Para muita gente é só colocar um tênis e sair por aí. Não para eles. Quem convive com a diabetes precisa de muito mais. Embora o esporte seja fator essencial para o tratamento do problema, há riscos caso a glicemia não seja monitorada e controlada. Foi pensando nisso que o doutor Rodrigo Lamounier, médico, diabético e corredor, criou em Belo Horizonte o projeto Volta Monitorada. Trata-se de um grupo que buscar inserir pessoas com diabetes do mundo da corrida, os ajudando e orientando na monitoração contínua da glicose através do uso de tecnologia disponibilizada gratuitamente. Hoje ele conta com a ajuda de outros médicos, nutricionistas, enfermeiras e do treinador Flavio Aguiar [CREF 007852-G/RJ], diabético há 29 anos, corredor há 20.

E no dia 3/12/2017, todos participaram da 19ª edição da Volta da Pampulha. Foram 18 corredores que tiveram suas condições físicas verificadas do início ao fim dos 18km. Cada um foi para a corrida munido de medidores de glicose de ponta de dedo ou/e mais modernos - como os sensores a distância que não precisam extrair gota de sangue com microagulha. Além disso, para corrigir a glicose para cima, eles usam o mesmo sachê de carboidratos dos outros corredores, e, para baixo, a insulina.

- Antes da prova a gente tem que fazer a medição da insulina, saber a tendência dela, se está para subir ou para descer, considerar a adrenalina da prova e fazer o ajuste necessário. Se ela estiver acima do ideal, a gente toma uma dose de insulina, se estiver abaixo do ideal, a gente coloca carboidrato para dentro do nosso corpo que vai se transformar em energia, que é o que vai subir o nível de glicose. Estando adequado, a gente começa a corrida - explicou Flavio, conhecido como Flavio Doce, que também seguiu à risca o ritual antes de partir para a largada da Pampulha.

Durante a corrida, os cuidados continuam, e as medições e correções são feitas pelo percurso. Os mais experientes nem precisam parar, e fazem todo o procedimento, até mesmo furar o dedo, correndo. Na metade da prova, no km 9, havia um posto de monitoração esperando por eles.

- Não consegui manter o ritmo. Suspendi a insulina, quando vi que ela estava caindo, tomei dois sachês de carboidrato, mas não foi o suficiente - lamentou o psiquiatra Oscar Santiago, 40 anos, 13 de diabetes, 10 de corrida, que queria ter feito um tempo melhor.

O local da aplicação da insulina também é muito importante. Por isso, cada tipo de atividade física tem sua peculiaridade, como explica Flavio.

- A corrida tem a tendência a baixar o nível de glicemia, e o local de aplicação faz a diferença. Na corrida evito aplicar na perna, porque vai acelerar a velocidade da insulina e eu posso fazer uma hipoglicemia - disse ele, enquanto fazia a aplicação na barriga.

A diabetes atinge 16 milhões de brasileiros. Ela se divide em dois tipos bem distintos, 1 e 2. A diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, que geralmente aparece na infância e adolescência, mas também pode ser diagnosticada em adultos. Já o tipo 2 é principalmente causado pela obesidade. E como diz Flavio Aguiar, quem tem diabetes não tem férias, fim de semana, nem feriado...

- O controle é cotidiano para a pessoa que tem diabetes. Não temos folga. Temos que estar atentos o tempo todo. Lidar com isso de forma muito natural é o que nos dá qualidade de vida e saúde. O diabetes tem que ser encarado como um parceiro que está conosco o tempo inteiro e temos que cuidar bem dele. Cuidar do diabetes é o que nos faz ter qualidade de vida.

Como diz Flavio, ter diabetes não é sinônimo de falta de saúde, pelo contrário. É o caso de Juliana Sabino. Aos 30 anos, 22 de diabetes, ela faz parte do grupo de corredores monitorados e também esteve na Volta na Pampulha. Apesar de ter tido duas hipoglicemias durante o percurso, fez uma boa prova e chegou inteira para verificar suas condições já com a medalha no pescoço.

- Tive duas hipoglicemias, mas foi tranquilo. Tomei melzinho, e a glicose subiu e ficou tranquilo para correr. Parei, medi direitinho. Antes a gente diminui a dose de insulina para poder correr, agora está tudo bem, normal - comemorou ela.

E Juliana não estava sozinha. Sempre ao seu lado, o marido Alexandre Vilela a acompanhou por todos os 18km. De patins, ele fez fotos e vídeos, cheio de orgulho da esposa atleta que, segundo ele, está muito melhor de saúde do que ele próprio.

- Eu só a acompanho em todas as provas, porque, na verdade, a saúde dela é melhor que a minha. Ela tem um cuidado com muito mais afinco. Eu vou mais para apoiar mesmo - disse ele.
Que Juliana sirva de exemplo não só para o próprio marido, mas para todos nós que mesmo estando 100% saudáveis muitas vezes nos apegamos a desculpas para não praticar atividades físicas. O exercício é capaz de mudar e salvar vidas, fazendo com que ela fique cada vez mais doce.

- A atividade física faz com que a gente diminua a necessidade do uso da insulina, é um auxiliar e um facilitador.

Está dito, Flavio. E que venha a próxima Volta “monitorada” da Pampulha!



Fonte: Eu Atleta