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Academias de ginástica buscam inovação para conseguir manter a clientela 30/08/2018

Quem vê de fora pode até achar que se trata de um duelo moderno, em que as concorrentes, sem lanças ou espadas, se enfrentam de cada lado da Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, na zona Sul da cidade. A fictícia querela se passa entre a recém-chegada academia de ginástica Smartfit e a veterana Body Tech. É verdade que o público de ambas é bem diferente, sobretudo no quesito poder aquisitivo. A advogada Paola Sion, 43 anos, porém, passou um tempo praticando nas duas até que fez sua opção. “Comecei a fazer ginástica aos 13 anos e já passei por várias academias. A principal diferença da Body Tech é que na Smartfit não havia aulas, mas passou a ter. Então optei por ela, que me atende muito bem e o preço é infinitamente mais barato”, disse, enquanto suava a camisa no aparelho chamado ‘Escada’.

O mais curioso é que este tipo de duelo tem regras muito próprias, conforme esclarece o presidente do Conselho Regional de Educação Física (CREF1), André Fernandes [CREF 000013-G/RJ]. Os que pensam que a chegada ao mercado de academias de ‘low cost’ (baixo custo), como a Smartfit, detonou a concorrência, estão muito enganados. “Há casos de academias vizinhas às de baixo custo que acabam recebendo clientes atraídas pelos baixos preços e se adequam à maior oferta de serviços da concorrente, mesmo que por um preço um pouco mais alto”, explica Fernandes. O raciocínio esclarece o porquê do aumento de 556 academias na cidade do Rio de Janeiro, entre 2016 e 1018 (veja quadro). “Quando fecha uma academia o ruído é maior do que quando abre”, resume. Longe, entretanto, de ser só isso.

Esta concorrência às avessas já aconteceu há 10 anos, quando foi inaugurada a rede Curves, só para mulheres, alvo de muitas críticas na época, que usava simplórios equipamentos de molas, direcionados às mulheres que temiam não dar conta de academias melhor equipadas. O resultado é que a rede acabou por encorajar as mulheres a buscar academias melhores e a grande maioria das Curves fechou as portas. Segundo o presidente do CREF1, a receita para o sucesso responde pelo nome ‘inovação’. “A Internet traz mudanças muito rápidas e a atividade física acompanha esse ritmo. O que ocorre no mercado é que as academias que não oferecem serviços diferenciados, novidades ou se reinventam, acabam fechando as portas. Hoje há uma grande variedade de oferta de serviços, studios, boxes de crossfit, clínicas especializadas, enfim, novos nichos de mercado”, aponta.

O professor de educação física e proprietário da simpática Beach Club, com 420 m² distribuídos em dois pavimentos em Ipanema, José Carlos de Lima, o Zeca, 55 anos, tremeu nas bases com a instalação de uma Smartfit a poucos metros da sua. Nos últimos anos ele assistiu ao fechamento de várias academias da vizinhança, e ele mesmo perdeu 200 de seus 700 alunos. Contudo, tem conseguido manter uma clientela fiel, que compara o espaço com grande variedade de alternativas a uma grande família. “Recentemente criamos um grupo de professores de ginástica, ‘Local Carioca’, e os colegas acham que sou um ‘case’, porque todo mundo fechou ao meu redor. Fundei minha academia em 1996, sou dono, tenho um sócio, 15 professores, dou aula de localizada e consegui criar uma clientela fiel, a um custo viável. Para conseguir me manter foi preciso fazer a diferença, com a qualidade das aulas e eventos que sempre organizei”, observa Zeca, um exemplo vivo do que prega André Fernandes.

Aluna da Beach Club há nove anos, a advogada Nice Barcellos, que começou a fazer ginástica aos 14 anos, bate seu ponto diariamente na academia. “Vario entre localizada, spinning e alongamento. Os professores são muito bons, adoro as aulas de todos eles, dão sempre uma atenção especial ao aluno. Não me interesso por academias que só oferecem musculação, gosto da presença do professor, atento, corrigindo meus erros”, tieta. A professora de ioga Carolina Lewin, 26 anos, estava conhecendo a Beach Club na última quinta-feira, levada pelo professor Fábio Kerr. “Vim fazer um treino funcional, para trabalhar força e me ajudar num melhor desempenho na ioga. Achei a academia interessante, com grande variedade de opções”, elogiou.

Apesar dos atributos, a administradora Márcia Penna, 65 anos, está entre os 200 alunos que mudaram de casa. “Não vivo sem ginástica”, diz ela, que começou pelo balé. “As pessoas se deprimem facilmente, não entro em depressão porque estou sempre liberando endorfina. Frequentei várias academias e nos últimos anos estava na Beach Club, que não era das mais caras e eu gostava muito do professor. Mas era um pouco longe de casa. Abriu uma Smartfit pertinho e me mudei”, resume Márcia que, como Paola Sion, aproveita o baixo custo à introdução de aulas com professores, que a rede de baixo custo acabou por acrescentar à sua grade.

Enquanto isso, as novidades continuam em marcha e todos têm de se cuidar muito bem para não largar o páreo. De acordo com o presidente do CREF1, a nova tendência são os locais especializados, voltados a grupos de cardiopatas, diabéticos, hipertensos, gestantes ou pessoas com problemas posturais e lesionadas. “Já chegou aqui em academias, studios, clínicas e ambientes dentro das academias, um modismo que tende a crescer. O mesmo ocorre com grupos que praticam atividades ao ar livre, sob a orientação de um profissional. Começou com corrida e cresce nos segmentos bicicleta, e patins”, conclui Fernandes.


Fonte: Jornal do Brasil